Acostumados à riqueza fácil do ouro e das pedras preciosas, não se interessaram pela imensa região de economia agropecuária. Relembra a FUNDASF que ainda como hoje, administrar se resumia em cobrar imposto para os cofres de sua majestade. Diante do abandono, D. Pedro I ofereceu em 1826 a região à Bahia, que a aceitou. Foi anexada por um ato provisório em 1827 que inercialmente vem sendo mantido até hoje. O povo do Oeste baiano, da margem do São Francisco, habitantes da antiga Comarca do mesmo nome, reclama da falta de vínculos culturais com Salvador, isso em razão de origens diversas, o que leva o povo da região a apresentar outra face cultural, com expressões também diferentes. Invocam maior vizinhança e afinidade com Goiás e Tocantins do que com a heráldica Bahia de São Salvador. O intercâmbio da região se dá mais com cidades do Tocantins, Goiânia e Brasília do que com Salvador. Alegam que não perderão tradições baianas, porque elas nunca fizeram parte de suas vidas. Localizam suas raízes na antiga Comarca do São Francisco desde as revoluções Pernambucanas. Aí sim, reside a origem de sua tradição, o berço de seu modo de ser, alimentar, morar e todas as manifestações culturais. A idéia da criação do Estado do São Francisco se escora nessas tradições, nas diferenças econômicas, porque a região sempre teve economia agropastoril, que agora ganha força com as levas de ocupação sulista com impacto poderoso na produção, mo meio ambiente e na cultura. A região sente-se debilitada pelo abandono que sua diversidade tem encontrado nos governos da Bahia. A criação do novo estado poderá abrir horizontes para sua gente. O fortalecimento da cultura regional imprescindível ao Brasil plural. Poderá redefinir objetivos e ganhar com o atual fluxo de progresso baseado na produção de frutas e grãos, seguido da industrialização, trazendo para dentro de si um governo que possa administrar o novo estado a partir de sua própria realidade, anseios e necessidades. Consultando esses breves argumentos. O povo de lá tem muito mais. Pode-se ver que a criação do Estado do São Francisco é um futuro a que não se pode fugir. Quanto mais cedo vier, mais passo terá dado o país para seu mais orgânico, igualitário e humano desenvolvimento. Pensando nisso, me veio à lembrança uma estrofe de um poema que escrevi há muito tempo: Eu vou sozinho e sou muitos/esta é a minha fortaleza/o sangue que vem de longe/no meu corpo se represa/quem vem da raça que eu venho/não pode cantar fraqueza. (...) Eu vivo é fora do tempo/no meu tempo não há pressa/nos meus mortos vejo o rio/onde o futuro começa. Diário da Manhã, 30.05.08
segunda-feira, 2 de junho de 2008
VEM AÍ O ESTADO DO SÃO FRANCISCO
Quem observa o mapa do Brasil pode ver, além de sua extensão continental, uma enorme disparidade em sua divisão interna. A Federação é uma colcha de retalhos disforme. Coisa que começou com as capitanias hereditárias, continuou nas províncias e se mantém nos estados republicanos. Uns, pequenos como o Sergipe; outros, gigantescos como Amazonas, Pará, Minas e Bahia. Goiás já foi assim, até que a criação do Tocantins beneficiou os dois territórios que ganharam desenvolvimento e progresso, antes impossíveis. Germinam hoje vários projetos de divisão desses estados colossais que sofrem com desigualdades internas. Com a distância de suas metrópoles. Com a mania colonialista das administrações que só olham para as regiões mais distantes e pobres para saquear, buscar produtos e impostos, enquanto sonegam estradas, escolas, saúde e o conforto da riqueza e da vida moderna. A redivisão territorial é um desafio que o país tem que enfrentar para aproximar o poder do povo, colocando nas vizinhanças de todos os cidadãos os centros de decisão. Afinal, esse povo também precisa ser ouvido. Como sucedeu com o irmão estado do Tocantins, a região do oeste baiano beirando o Velho Chico pulsa em ânsias de emancipação. Traz nos alforjes e bruacas argumentos irrefutáveis. Em primeiro lugar, o colorido cultural. Aí não é a Bahia do recôncavo, do litoral, com seu jeito malemolente de capoeira, berimbau, candomblé, do cacau e do petróleo e do axé. É o sertão de Euclides da Cunha, do vaqueiro encourado, da bravura jagunça e cangaceira, das vaquejadas, do forró, do repente, das devoções atávicas, caldeadas na mestiçagem mameluca, cafusa, barranqueira, geralista ou brejeira. Cultural e etnicamente está mais próximo do centro-oeste e do nordeste do que da doce madrasta Bahia dos trios elétricos, dos afoxés e dos terreiros. Outro argumento enraizado no tempo é o de que esta região que molha o rosto no Velho Chico, encosta as espáduas na Serra Geral de Goiás, na Serra da Tabatinga com o Piauí e a Serra dos Irmãos, até Pernambuco, nunca foi Bahia. Já nasceu sendo São Francisco. A matéria é bem conhecida e explicada pela Fundação de Integração Cultural e Cidadania do Alem São Francisco, com sede em Barreiras. No período das Capitanias hereditárias, de 10 de março de 1534 até 1824, estavam ligadas a Pernambuco. Foi desmembrada depois da revolta dos pernambucanos para criar um país na conhecida Confederação do Equador. Para enfraquecer e punir os pernambucanos que queriam deixar de ser brasileiros, formando o novo país, a região de chuvas torrenciais, rios perenes e muitas riquezas foi anexada, primeiro por D.João VI, em 1817, depois por D.Pedro I, em 1824, separaram a área de Pernambuco, anexando-a a Minas Gerais, por seus limites ao sul. (Estimado leitor, continuo na próxima semana ) Diário da Manhã de 23.05.08
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