segunda-feira, 24 de agosto de 2020

INCOMUNICÁVEL

 

 

 

NCOMUNICIÁVEL



 

INCOMUNICÁVEL

 

 

Os seres não se tocam

na contramão do dia.

Bólides de medo e distância,

os seres se proíbem

em data e pleito

                           que se adia.

 

Irreconhecidos, permanecem

à porta das lembranças

como se um velho,

ao crepúsculo, recolhesse

a mão de uma criança.

 

Os seres não se tocam

Na palavra geografia,

os corpos não são vias,

não são portos ou caminhos.

São ermos e selvas

                         E desertos.

 

O corpo é uma praia

que outro corpo invoca

com seu aceno de onda

tremendo sobre distância.

 

Os seres não se tocam

na dor de ser presente,

ofertam-se em casca

e negam-se em semente.

 

São margens e consentem

intactos territórios.

Por isso, é tudo abismo

o que a mão prolonga,

é tudo abismo

o que o beijo alcança.