Chuva
de ontens e imemoriais infâncias,
de
auroras ruivas e mundos pubescentes.
Varando raízes de expectação, frementes,
sem
portos, amuradas ou distâncias.
Toda
a noite e o dia, incansavelmente,
drenou
dos céus à exasperada secura,
mananciais
contidos de mel e de fartura,
derramando-se
em gozo fecundo de semente.
Vem
a chuva! Serenamente deu ao campo
As
esperanças dos bichos, as revoadas...
E
foi tanto o milagre de sonhar, e santo,
que
as espigas novas reclinam decepadas.
E
leve, levíssima, a maternal chuvinha,
acariciou,
como sabe amaciar a pluma,
a
áspera terra, a malicia, a urze mais daninha
coberta
de orvalho, adocicada névoa e bruma.
Caiu
em homilia branda, chuva e glória
Intimando
os seres vacilantes às retomadas
do
marchar da vida em sinuosas caravanas.
Arrebanhando
brotos e espigas dispersadas
nas
terras largas, ermos cerros e nas savanas.
Chuva
que se encorpa na serra sem nome,
Sem
dono, sem nenhuma reserva de mercado.
A
propicia chuva, notívaga e insone
sabe
a preclaro mel e leite derramado.
Sem
prever avenças, sem tenças ou tributos,
quer
ser a chuva do dia, da estação , da flor
Rasgada
de seus ínvios seios e ocultos.
Na
parição da terra, tão ferida. Suma dor!
Choverá
muito sobre o crente e o ímpio,
Como
se fosse de Deus desértico maná
Molhará
as barbas do potentado olímpio
E
dos mais tristes e mais fracos molhará.
Não
leva, à mingua de ser sempre generosa,
A
culpa de negar-se o pão ao irmão,
Nem
de sede secar-se carne e a rosa rosa
Dando
ao garrote, o digno de perdão.
Terras Utopia
, 13/11/2016