terça-feira, 22 de janeiro de 2019

TECELÃ DE PALAVRAS


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TECELÃ DE PALAVRAS – Breve notícia


Sônia Elizabeth vem sendo uma presença poética animadora entre nós. Todos os dias, como aqueles que sabem fazer auroras, espalha seu canto, numa enorme colcha polifônica. O verso sempre bem cuidado na trama das palavras, dos fios sonoros da linguagem, arma ritmos e harmonias. Sua linguagem poética anuncia uma larga convivência com a leitura, a reflexão e o exercício. Sabe dar voz às coisas e aos seres. Sabe mirá-las e ouvi-las de sua atalaia altíssima de existir. Comove-nos seu dialogar com o mundo. Sua poesia veste sempre véus de imoderada paixão, assumindo vozes de terra, bichos e chuva. Nenhuma neutralidade. Adere indesculpável à carnalidade da vida. Um “eu” encantado com o mundo natural mais que metafísico, onde tudo padece do glorioso curso vida/morte. No intervalo lúcido de respirar não restringe o canto ao espetáculo objetivo cruzando as janelas do tempo consciência. Debruça-se, confessional, naquele lirismo que sonda suas próprias ânsias, desejos e projetos. É poeta do tempo, do mundo, mas é com maestria a poeta de seu próprio universo, que não se furta a proclamar e desnudar. Vige aí o solilóquio, o digno confessional. Joeirando a grande poesia de todos os tempos Sônia se contém na performance maior da poética universal, mesmo que estenda as mãos próximas a Manuel de Barros, Cecília Meireles ou Drummond. Tem voz própria. Não presta vassalagem, canta com: orfeônica. Sem adesão aos vanguardismos, sabe ser contemporânea e sem tempo. Sabe empolgar o idioma recatado da poesia. Sempre fiel a uma dicção primeva faz ressoar seu canto como brisas, vendavais, urros de bichos, lamentos de crepúsculos e sabor de frutas.  Em sua tecelagem nota-se o recolhimento do vário elemento: fibras, fios, cores, formas, – para compor o harmônico tecido da poesia como construção artística. Eis que os poemas não nascem prontos. São feitos de matéria dispersa. Imaginária, como hausto humano, gestos de brandura e suor, murmúrios e gritos lancinantes, voragens de abismos, mares e estepes. Montanhas. Para lá cavalgam na voz dos poetas os sonhos que se rebelam no pó, na relva. De tudo isso vai se deixando construir (tecer) o poema. Só o salva da dispersão ou do passar impune, a competência do tecelão. O artífice que faz de vário e precário material o marco testemunho da palavra que sonha permanência. Assim aparece uma das faces deste Tecelã de Palavras. Um jogo incrustrado num painel maior- obra de Sônia Elizabeth que vai jorrando generosa no diálogo cotidiano e nas redes sociais.  Ela nos dá a certeza ótima de que a poesia segue sendo essencial e pode salvar da grande catástrofe, nossa frágil vida, nossa humilde alma de eternidade.

Aidenor Aires

                                                                                            Pacha Mama, janeiro, 2019

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