TECELÃ DE PALAVRAS – Breve notícia
Sônia Elizabeth vem sendo uma presença poética animadora
entre nós. Todos os dias, como aqueles que sabem fazer auroras, espalha seu
canto, numa enorme colcha polifônica. O verso sempre bem cuidado na trama das
palavras, dos fios sonoros da linguagem, arma ritmos e harmonias. Sua linguagem
poética anuncia uma larga convivência com a leitura, a reflexão e o exercício.
Sabe dar voz às coisas e aos seres. Sabe mirá-las e ouvi-las de sua atalaia altíssima
de existir. Comove-nos seu dialogar com o mundo. Sua poesia veste sempre véus
de imoderada paixão, assumindo vozes de terra, bichos e chuva. Nenhuma
neutralidade. Adere indesculpável à carnalidade da vida. Um “eu” encantado com
o mundo natural mais que metafísico, onde tudo padece do glorioso curso
vida/morte. No intervalo lúcido de respirar não restringe o canto ao espetáculo
objetivo cruzando as janelas do tempo consciência. Debruça-se, confessional,
naquele lirismo que sonda suas próprias ânsias, desejos e projetos. É poeta do
tempo, do mundo, mas é com maestria a poeta de seu próprio universo, que não se
furta a proclamar e desnudar. Vige aí o solilóquio, o digno confessional. Joeirando
a grande poesia de todos os tempos Sônia se contém na performance maior da
poética universal, mesmo que estenda as mãos próximas a Manuel de Barros,
Cecília Meireles ou Drummond. Tem voz própria. Não presta vassalagem, canta com:
orfeônica. Sem adesão aos vanguardismos, sabe ser contemporânea e sem tempo.
Sabe empolgar o idioma recatado da poesia. Sempre fiel a uma dicção primeva faz
ressoar seu canto como brisas, vendavais, urros de bichos, lamentos de
crepúsculos e sabor de frutas. Em sua
tecelagem nota-se o recolhimento do vário elemento: fibras, fios, cores, formas,
– para compor o harmônico tecido da poesia como construção artística. Eis que
os poemas não nascem prontos. São feitos de matéria dispersa. Imaginária, como
hausto humano, gestos de brandura e suor, murmúrios e gritos lancinantes,
voragens de abismos, mares e estepes. Montanhas. Para lá cavalgam na voz dos
poetas os sonhos que se rebelam no pó, na relva. De tudo isso vai se deixando
construir (tecer) o poema. Só o salva da dispersão ou do passar impune, a
competência do tecelão. O artífice que faz de vário e precário material o marco
testemunho da palavra que sonha permanência. Assim aparece uma das faces deste
Tecelã de Palavras. Um jogo incrustrado num painel maior- obra de Sônia
Elizabeth que vai jorrando generosa no diálogo cotidiano e nas redes
sociais. Ela nos dá a certeza ótima de
que a poesia segue sendo essencial e pode salvar da grande catástrofe, nossa
frágil vida, nossa humilde alma de eternidade.
Aidenor Aires
Pacha
Mama, janeiro, 2019
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