Elegia para meu avô André
O Riachão das Neves fala comigo
em suas funduras.
O verde vale
de acolhimento vulcânico
tresanda a cana, mel
e terna rapadura.
Ainda sigo os asnos insolentes
nas cacimbas,
as ruas estreitas, casas genuflexas
endereçadas aos solilóquios tristes.
Por ali passou meu avô André
pastoreando cobras,
ordenhando peçonhas,
convencendo os répteis
ao homizio das furnas.
Ninguém guardou seus exorcismos,
suas benzeções, sua simples magia
de pescador e santo.
No angical,
enlaçado de raízes,
repousa o mago André, o herbolário.
Há pouco, campeava o pé-duro xucro nos gerais.
Há pouco, consultava o bornal de curas.
E ia reunindo as cobras benfazejas,
convertendo-as á paz,
evangelizando-as para a aceitação
dos humanos imperfeitos.
André passava a mão sobre as cabeças dos filhos
e procurava limpar seus horizontes.
André padecia, discreto,
a dor futura dos filhos
ao peito pressentida, em secreto.
Quando André quis morrer,
mandou buscar os tambores
da Folia do Divino.
Zumbou a zabumba. Tiniu a viola.
Sofreram os cantos da despedida.
Quando fez silêncio a liturgia santa,
André recolheu, contrito, sua alma humilde.
Naquele entardecer
o gado pé-duro lamentou.
O marruá gemeu, cavou a terra,
olhou choroso o poente
e as vacas, orfeônicas, prantearam
até se apagar a luz do dia.
Um comentário:
Poeta Aidenor,
Que nostálgica magia você nos apresenta.
Do bucólico Riachão das Neves, e as funduras que te embalaram, fica a certeza do mito que perdeu, para Goiás ganhar o melhor poeta vivo (sem tendenciosidade)de nossa terra.
Elizabeth Caldeira Brito
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