segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

HAVIAM DEZ ÍNDIOS SENTADOS

Eu vi, senhores, em Sukua,
dez índios sentados.
Eu vi dez índios molhados
da selva amazônica
sentados em Sukua.
Os índios não estavam bêbados,
não estendiam as mãos aos turistas,
não pediam aos frios passantes
quinquilharias de plástico,
obséquios eletrônicos
nem a doce embriaguez
da pax americana.

Eu vi dez índios sentados.
Foi em Sukua,
sob o céu de Morona Santiago,
no convulso e vulcânico Equador.
Dez índios com suas lanças,
dez índios com suas tintas
da cor do sol da manhã.
Com lanças de sangue abrem
na selva um rio sem nome,
um rio de liberdade
no peito de cada homem.

Fazem um ofício de guerra:
ensinar passo e encontro
nos descaminhos da selva.
Eu vi dez índios sentados,
os dedos na tipewriter
e a esperança na mão.
Pela distância ensinavam
com alfabetos e letras
palavras novas e antigas
que são águias disparadas
contra o ninho da opressão.

Eu vi dez índios sentados.
Senhores podiam ser
de seus destinos antigos.
Eu vi dez índios sentados
e conto à América este fato.
Conto aos índios,
conto aos brancos,
com a certeza feroz
de que uma nova lição
se pode colher segura
das tintas deste retrato.

Eu vi dez índios sentados
e disso faço notícia,
bajo el cielo azul de Sukua,
en Morona Santiago,
del dulce y convulso Ecuador.

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